Questão: 100269 - Português em Geral - Banca: - Prova: - Data: 01/01/2023

Apelo
Dalton Trevisan

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as afliçôes do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada — o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcharam. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

O texto lido retrata fundamentalmente:

  • a
    o esquecimento do narrador, relativamente à mulher, uma vez que sua vida doméstica continua em ordem;
  • b
    a falta que uma empregada doméstica faz em um lar masculino;
  • c
    a saudade da mulher amada que o narrador insinua, através, principalmente, do desarranjo físico em que se encontra a casa, resultante da ausência da mulher;
  • d
    a inexistência de qualquer sentimento positivo do narrador, em relação à mulher;
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