Questão: 102034 - Português em Geral - Banca: - Prova: - Data: 01/01/2023

Quando os jornais anunciaram para o dia 1.º deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi mui diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados; eu agradeci ao céu. Boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarianismo. Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarianismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era sorte humana; foi a minha. Certo, a arte disfarça a hediondez da matéria. O cozinheiro corrige o talho. Pelo que respeita ao boi, a ausência do vulto inteiro faz esquecer que a gente come um pedaço do animal. Não importa, o homem é carnívoro. Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarianismo. Deus criou o homem para os vegetais, e os vegetais para o homem; fez o paraíso cheio de amores e frutos, e pôs o homem nele.
(Machado de Assis, Fragmento de A Semana)

Vocabulário:
parede: paralização, greve.

Do texto, ainda se pode deduzir que:

  • a
    a arte dos cozinheiros facilita ao homem ser carnívoro.
  • b
    o autor considera-se homem de sorte por ser carnívoro.
  • c
    o uso da razão não aconselhava ao autor alimentar-se de vegetais.
  • d
    o autor preferia o vegetarianismo por uma razão estética.
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