Questão: 2870 - Interpretação e Linguagem - Banca: - Prova: - Data: 01/01/2023

Mais assustadoras do que a cena do PM executando o ladrão são as seçôes de cartas dos jornais do Rio. Não surpreende que uma pesquisa de rua revele que a maioria concorda que o bandido tem que morrer mesmo. As opiniôes da rua são espontâneas e emocionadas, algumas talvez não resistissem a uma reflexão. A enquete popular também proporciona o mesmo tipo de anonimato e dispersão de culpa que anima um linchamento. As pessoas estão impacientes e com medo, o bom senso é vítima da mesma miséria que vitimou o ladrão e seu executor. Mas as cartas aos jornais defendendo a execução são de indivíduos que refletiram e assinaram embaixo. São de brasileiros que pertencem a algumas minorias concêntricas - alfabetizados, leitores de jornais, articulados - que deveriam pelo menos se prevenir contra o simplismo. Mas eles organizaram seus argumentos, montaram suas frases, cuidaram da pontuação, dobraram a carta e botaram no Correio e em nenhum momento a incongruência do que faziam os deteve. Estavam usando o privilégio do pensamento e da palavra para dizer que autorizam e aplaudem o estado assassino.
(...)
Vivo das palavras escritas. Tenho por elas, até as mais feinhas, um carinho paternal. Não gosto de vê-las usadas assim. No fundo é ciúme.
(Luís Fernando Veríssimo)
O texto lido apresenta:

  • a
    Crítica direcionada apenas aos indivíduos cultos (alfabetizados, leitores de jornal);
  • b
    Opinião coesa entre autor e demais indivíduos, evidenciada principalmente pelo uso do conectivo "mas" que inicia um parágrafo;
  • c
    Apoio ao bom senso e ao discernimento das pessoas que analisaram com frieza e imparcialidade situaçôes como a do PM;
  • d
    Reflexôes sobre um fato ocorrido no Rio de Janeiro.
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