Questão: 4728 - Interpretação e Linguagem - Banca: - Prova: - Data: 01/01/2023

Mais assustadoras do que a cena do PM executando o ladrão são as seçôes de cartas dos jornais do Rio. Não surpreende que uma pesquisa de rua revele que a maioria concorda que o bandido tem que morrer mesmo. As opiniôes da rua são espontâneas e emocionadas, algumas talvez não resistissem a uma reflexão. A enquete popular também proporciona o mesmo tipo de anonimato e dispersão de culpa que anima um linchamento. As pessoas estão impacientes e com medo, o bom senso é vítima da mesma miséria que vitimou o ladrão e seu executor. Mas as cartas aos jornais defendendo a execução são de indivíduos que refletiram e assinaram embaixo. São de brasileiros que pertencem a algumas minorias concêntricas - alfabetizados, leitores de jornais, articulados - que deveriam pelo menos se prevenir contra o simplismo. Mas eles organizaram seus argumentos, montaram suas frases, cuidaram da pontuação, dobraram a carta e botaram no Correio e em nenhum momento a incongruência do que faziam os deteve. Estavam usando o privilégio do pensamento e da palavra para dizer que autorizam e aplaudem o estado assassino.
(...)
Vivo das palavras escritas. Tenho por elas, até as mais feinhas, um carinho paternal. Não gosto de vê-las usadas assim. No fundo é ciúme.
(Luís Fernando Veríssimo)
A opinião das pessoas sobre o fato:

  • a
    Perturbou o autor, que esperava uma opinião mais comedida dos que foram entrevistados na rua;
  • b
    Impressionou o autor, que esperava capacidade de discernimento moral daqueles que escreveram para os jornais;
  • c
    Foi uma atitude refletida e compreensível das que mandaram cartas, compreensível porque elas tiveram tempo para opinar de forma mais racional;
  • d
    Foi motivada pelo bom senso de uma minoria privilegiada.
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