Questão: 68816 - História - Banca: - Prova: - Data: 01/01/2023

(...) Parecerá incrível nas futuras idades, o como se pode obrar tanto nos edifícios, que repentinamente se levantarão nas duas praças que se tem em Lisboa, que são o Terreiro do Paço, e o Rocio; mas estes milagres da arte, e diligência, soube conseguir o Senado para obedecer às ordens de um Soberano, que por influxo de suas palavras conseguiu o vencer-se as demoras do tempo, e os embaraços do terreno, não havendo obstáculo, que não fosse superado, para administrarmos naquele fausto e sacratíssimo dia a mais sagrada e lustrosa Procissão para o Triunfo do Senhor Sacramentado. Devemos crer e persuadirmos, que se os romanos vissem a Lisboa, e vissem só uma parte daquele plausível dia, perderiam soberba, com que ainda se lembram o triunfo dos Emilios. E da pompa com que se celebram os Cesares, as solenidades que dedicavam as suas falsas Divindades, das festivas entradas dos Titos, e Vespasiano, de que as Histórias daquele prostrado Império fazem agradecida memória; porque na cabeça do mundo gastarão largos anos para levantar arcos e pirâmides. Mas em Lisboa Ocidental se fabricarão máquinas em quatro semanas, que servindo em poucas horas merecerão o aplauso de muitos séculos.
(Inácio Barbosa Machado, na História Crítico-Chronológica da Instituiçam da Festa, Prossiçam, e Officio do Corpo Santíssimo de Christo no Venerável Sacramento da Eucharistia, foi publicado no ano de 1759)
A noção de memória encontrada nessa fonte histórica é contrária à concebida por Le Goff, pois:

  • a
    expressa a ideia de passado que vigorou no ocidente europeu durante a Época Moderna, segundo a qual os acontecimentos do presente deveriam ser uma imitação dos grandes feitos das civilizaçôes do passado.
  • b
    busca, por meio de um acontecimento religioso, apagar as lembranças negativas que pairavam sobre a memória do rei D. João V e, para isso, coloca-o no mesmo patamar de grandes imperadores da Antiguidade.
  • c
    revela a grande contradição presente em todas as celebraçôes do Antigo Regime, quando os poderes da monarquia e da Igreja travavam uma verdadeira disputa pelo espaço e admiração do público.
  • d
    coloca os acontecimentos do tempo presente acima daqueles grandes eventos do tempo passado utilizando um recurso de retórica para exaltar por meio dessa comparação a fé católica e a monarquia.
  • e
    adota uma perspectiva apocalíptica e providencialista, que espera no futuro o retorno ao passado por meio das realizaçôes do presente por intermédio da intervenção divina, que se daria na ocasião da festa religiosa.
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